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Grandes Momentos em Pequenas Coisas

Publicado em 01 de março de 2021


A algum tempo atrás reencontramos a nossa amiguinha Anny na Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ). Tudo começou quando andávamos pelos corredores do hospital e fomos parados por algumas enfermeiras que nos falaram que Anny estava novamente na UTQ, confesso que bateu uma ansiedade para esse reencontro. Aliás, no andar, toda equipe de enfermagem estava com a mesma ansiedade, de nos avisar e dizer as suas falas nesse período de espera. Estávamos em meio a uma dessas conversas, até que ela surge no corredor. Com cabelos curtos, mais alta, diferente. Veio correndo e deu logo um abraço em nós. Como é gostoso esse tipo de encontro!

A ansiedade de todos deu uma dificultada na relação, ela na verdade estava tão curiosa que quis mexer em todos os bolsos, ver o que estávamos carregando, deixamos, não havia muito o que ser feito a não ser emprestar o que ela quisesse. Ela ia fazer uma cirurgia no domingo, perguntamos “O que você precisa para ficar tranquila para domingo?”. Ela pegou duas florzinhas de papel, apontou “Esse é você e esse é ele”, apontando pra mim e o Cirurgião Gaguelho.

Passou o domingo da cirurgia, dolorosa pelo que soubemos, enxerto. Ela já nos esperava, a enfermeira que acompanhava ela no momento falou, “deixou até a gente dar banho para receber vocês”. Como assim? Uma criança, superando a dor da água passando em suas feridas, só para receber dois palhaços? Brincamos! Risadas merecidas por tudo que passou, e nós felizes por termos proporcionado pra nós e pra ela, um lindo reencontro.

 

Na outra semana, as enfermeiras “a Anny está aguardando vocês com uma surpresa”. Chegamos no quarto, ela estava toda maquiada, pediu ajuda para a paciente do leito ao lado “fiz maquiagem pra receber vocês”. Incrível como uma criança, com um simples gesto comove a todos, e te oferece tudo o que ela tem, o coração aberto para um bom encontro. No improviso, apresentamos um duelo de mágica, “você quer ver a água sumir do copo Cirurgião Gaguelho?”, “quero ver”, e Acerola jogou a água na cara do amigo, “pronto, sumiu”. Saímos correndo e de longe ouvimos a gargalhada! Melhor recompensa!

Mais uma semana, agora, o último encontro já que no próximo ela estaria de alta. Chegamos no quarto, ela preparou uma mágica, lembrando do nosso duelo. Ela desaparecia se cobrindo, e nós a procuramos loucamente pelo quarto. Em um momento, ela para o jogo, nos olha e diz “vocês lembram quando eu estava na UTI e vocês fizeram nascer uma bananeira do lado da minha cama, e tiraram uma banana da bolsa da minha vó?”. Isso nos desmontou!

 

Tem alguns momentos que você não sabe até onde seu trabalho chega. Nessa época da UTI, a Anny só mexia os olhos, acenava lentamente com a cabeça, fruto das inúmeras queimaduras e das dores que sentia. E a criança lembra de cada detalhe do nosso primeiro encontro, de cada gesto, de uma banana que custa 1 real, comprado em uma lojinha xingling, que agora possui um valor incalculável.

É óbvio que o objeto em si não é nada sem a sua criatividade, este é o brilho da arte. E é fato que os grandes momentos estão presentes em pequenas coisas.

 

Artista: Tiago Abad

Palhaço: Cirurgião Acerola

Cidade: Limeira

Hospital: Santa Casa

Mês: maio – 2019


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