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É muito comum algumas crianças veem palhaços, acabam ficando com algum tipo de receio ou medo. Nesse momento delicado, é muito importante o palhaço saber a sua função dentro do hospital, não há espaço para gracinha, é uma relação tão delicada que para reverter a sensação de medo, só sendo muito sutil.
Foi assim com o Hernan, criança pequena, por volta de 3 anos de idade. Estávamos passando pelo corredor tocando uma melodia, Cirurgião Gaguelho no violão e Cirurgião Acerola no pandeiro, e sua mãe apareceu na porta com ele no colo. Ele ficou nos olhando um bom tempo enquanto tocávamos uma música. Quando sua mãe tentou se aproximar, a criança encolheu, escondeu o rosto, mostrou que queria mesmo era ficar quietinha, somente observando, sem interação.
A mãe voltou para a porta, permanecemos no mesmo lugar, tocando a música. Quando a criança relaxou, nos observou de forma diferente, pude chegar mais perto, passo a passo, devagar. Até que cheguei “cara a cara”, peguei um chocalho no bolso, toquei e mostrei para a criança que podia pegar na mão. Pegou, mexeu um pouco e me devolveu. Fiz isso com mais alguns objetos, ele interagiu e devolveu.
Sua mãe o colocou no chão, abaixei junto, convidei só pelo olhar, para que ele viesse tocar pandeiro. Fui aproximando novamente, devagar, coloquei o pandeiro a disposição para ele tocar, mexeu na cordinha que prende o pandeiro no meu corpo, deu umas batidinhas, mexeu nas platinelas, passou a mão no couro, e saiu andando pelo corredor, outra energia, tranquilo.
Saímos de cena, continuando a música pelo corredor, nós para um lado, a criança e sua mãe para outro. Uma troca, sem palavras, apenas no olhar e com o som. Assim é a sutileza, tão sutil que até parece que não aconteceu nada, ao mesmo tempo, aconteceu tudo. E o simples cativa muito quando bem aplicado.
Artista: Tiago Abad
Palhaço: Cirurgião Acerola
Cidade: Limeira
Hospital: Medical
Mês: novembro - 2019