O dia para mim só começa depois do café. Então, convido você para pegar o seu também e sentar aqui comigo para conversar.
Por acaso já pensou em ter uma segunda profissão na sua vida?
Segunda-feira, dia 17 de julho, pego minha mochila que separei um dia antes. Dentro, tem coisas como sapato, roupa, jaleco, nariz, chapéu, maquiagem, e junto com ela está também a maleta de ferramentas palhacísticas. Coloco tudo dentro do carro, e vamos para a estrada.
O destino é o hospital da PUC de Campinas, e nesse momento estou com o meu parceiro de vida e trabalho Tiago Abad. No caminho, apreciamos a coreografia das andorinhas no céu azul. Acredito nesse registro das andorinhas voando de manhã como algo tão positivo que gravou no meu inconsciente de tal forma, que pude ter acesso a ele mais tarde de outra forma, mas sobre isso chegaremos lá.
Julho, criançada maiorzinha está de férias, coincidência ou não, encontramos no hospital mais quartos vazios do que cheios, o que é ótimo, é claro (lugar de criança não é no hospital), por isso, cantamos e tocamos mais vezes para os bebês, que na maioria das vezes se encontram dormindo, ou tomando um leitinho fresquinho colhido no orvalho da manhã (direto da fonte).
Justo nesse dia 17 de julho, só para contradizer esse pensamento, eis que encontramos pelo menos um quarto cheio, com 4 mães e 4 meninas, duas bebês e duas maiorzinhas de aproximadamente 5 anos de idade. A novidade incrível é que três delas eram bailarinas do Bolshoi, sim, encontramos celebridades fantásticas minha gente!
Logo que passou pela porta, a Cirurgiã Juvelinda foi bem recebida por uma dessas bailarinas poderosas, que lê sua alma à primeira vista. A outra bailarina na entrada do quarto, era silenciosa e com um olhar vivo à espera de algo que nem sei o que era, mas que acho que aconteceu no final. A terceira bailarina nos surpreendeu com o seu sorriso, sim, “Artista reconhece outra artista”, frase que passou na cabeça de Juvelinda, e lá estavam as três prestando atenção em nós.
Juvelinda lembrou das andorinhas que viu de manhã e imediatamente teve a ideia de se apresentar como bailarina que quer fazer teste para o Bolshoi, “eu também sei dançar a lagoa dos cisnes”, ela disse. Acerola puxou imediatamente a flauta e Juvelinda então espalhou o seu encanto como cisne em quatro atos em torno de uma lagoa. Quando terminou, ao invés de lágrimas de emoção, como esperava Juvelinda, havia risadas inesperadas, afinal, Juvelinda não foi cisne, foi pato! Bom, pelo menos foi o que disseram os olhos mais atentos, a dança do pato é da outra história.
O Acerola com sua graça e leveza para mostrar do que era capaz, entrou e abrilhantou o palco como o grande feiticeiro Von Rothbart (sabe aquele que aprisionou a princesa Odette do Lago dos Cisne?), mas, para as três bailarinas, aquela dança foi apenas engraçada, pelo menos foi o que disseram rindo.
Saímos do quarto repensando nossas carreiras na dança. De fato, depois do encontro com as bailarinas do Bolshoi, nos fez pensar que mudar de profissão, no momento, não parece a melhor opção. Só que Juvelinda não perde a esperança, e seguirá tentando.
Se você tem uma segunda profissão, ou gostaria de ter, e se está ligado à dança, preciso dizer, não deixe de procurar as bailarinas do Bolshoi do quarto 116, elas lhe darão um feedback sincero, porém amoroso, sobre suas habilidades, virtuosismos e graciosidades como nunca ninguém jamais dará.
Eu sou a Cris Abreu, a Palhaça Juvelinda Canela Fina, e esse foi o meu registro do dia.
Até a próxima!
Artista: Cris Abreu
Palhaça: Cirurgiã Juvelinda
Cidade: Campinas
Hospital: Hospital da PUC
Mês: julho – 2023
