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Atuar em UTI's não é tarefa fácil. A todo momento, um imprevisto. A tensão é quase palpável em alguns momentos. Profissionais da saúde hiper mega concentrados, reuniões a todo momento, o médico sai para conversar com a família, chega mais um paciente com equipe multiprofissional acompanhando, outro foi para o centro cirúrgico… e lá fora, um “quartinho da angústia”, onde acompanhantes ficam aguardando informações.
Nós transitamos por todos esses lugares. Não preciso dizer o quanto a escuta, o bom senso e a sutileza devem ser ferramentas primeiras para qualquer situação. E não é raro, quando temos que sair do local, devido a uma emergência, quando sabemos que o nosso papel não terá razão ou função em permanecer.
Dessa vez, entramos e a pedido de uma enfermeira. Iríamos visitar o “Sr. Nelson”, aparentemente com 75 anos, com muitos fios ligados, tubos, acesso, equipamentos. Ele nos olha, um olhar vago, que logo chega ao presente quando percebe os Cirurgiões palhaços Acerola e Gaguelho.
Nos chama para mais perto, olhos marejados, mal conseguimos ouvir sua voz, fraca, baixa, cansada. Nos olha, parece querer dizer algo, seus olhos, antes marejados, começam a verter lágrimas. Chora. Nos diz “de hoje não passo, hoje é o último dia, estou sofrendo, estou cansado…”.
Pede então para que Gaguelho o acompanhe com sua viola, e começa a cantar uma canção própria, triste, de despedida, que em resumo nos diz para fazer tudo o que quisermos no hoje, no presente, que agora não restava outra alternativa, senão, partir.
Nós, sentindo toda esta energia, interagindo com o olhar, respirando fundo, lutando para não cair no choro, procurando transmitir força, boas energias, desejando o bem, cada um fazendo a sua oração interna.
Nos despedimos, passamos uma cortina que separa um paciente do outro, me deparo com a enfermeira que havia nos convidado. Também estava chorando, olhando nos olhos, silenciosa, divide um pouco da sua humanidade, apenas no olhar, não trocamos palavras… e continua fazendo os procedimentos em outro paciente. Escutou tudo, ouviu, chorou. Não dá para ser forte o tempo todo.
Nos olhamos, de longe nos despedimos, sem dizer nada, apenas sentindo.
Momento que definimos que aquilo tudo já bastava, hora de dar um descanso na mente e no coração, hora de se recolher e recompor.
Às vezes é assim, o palhaço precisa de um respiro.
Artista: Tiago Abad
Palhaço: Cirurgião Acerola
Cidade: Piracicaba-SP
Hospital: Hospital dos Fornecedores de Cana
Mês: outubro – 2023