Todos os dias nos deparamos com diversas experiências. São cenas, imagens, sons, cheiros, sensações, sentimentos, cores, ou uma combinação de tudo isso, que se transformam em memórias jamais esquecidas.
Ontem eu vi uma mãe que havia acabado de brincar com a gente. Fomos em outros quartos, e depois de um tempo a vi indo em um outro quarto, chamou uma senhora que estava sentada, acompanhando um paciente, conversou, desabafou, chorou, chorou bastante. Olhos inchados, lágrimas molharam seu rosto, limpou rapidamente, respirou, parecia aliviada. Agradeceu a senhora, deu um abraço, e retornou a seu quarto.
São detalhes sutis do ambiente hospitalar, que percebemos a todo instante. Também vemos pessoas que são boas conselheiras, amigas, boas ouvintes, acolhedoras, simpáticas, bem humoradas, positivas. Estão a serviço da sua comunidade, se organizam rapidamente e se colocam à disposição do outro. Em alguns momentos, inevitavelmente, os papéis também se invertem. Ora aquele que sofre, também consola em outro momento.
Outro dia vi uma mãe chorando, a enfermeira deixou sua bandejinha dos medicamentos, a abraçou, deu colo, fez um cafuné, suas mãos pareciam de mãe, que consola um filho. Após um tempo, se abraçaram, seguiram suas vidas, cada uma em seu papel. Quem não percebe, acha que nada acontece.
Alguns olhares dispersos aguardam notícias na porta do Centro Cirúrgico. Estão felizes aqueles que recebem alta hospitalar, saem sorridentes por sua superação, por estarem retornando aos seus lares, muitas vezes, emocionados. Chora aquele que perde, que não quer aceitar a finitude da vida.
Este é apenas um recorte de vida, um olhar sobre detalhes, e eu digo, o fenômeno é muito maior, muito mais complexo e mais intenso que as palavras que escolho para dizer.
Artista: Tiago Abad
Palhaço: Cirurgião Acerola
Cidade: Piracicaba-SP
Hospital: Hospital dos Fornecedores de Cana
Mês: janeiro – 2024
